O Traje Académico tem origem eclesiástica e surgiu com a finalidade de atenuar as diferenças de classes sociais dos membros do clero. Actualmente é considerado como uma forma da dignificação académica. Apesar de existirem diferenças de universidade para universidade, permanece a utilização da cor preta (intimamente associado ao movimento estudantil) e a insígnia bordada no casaco referente à Universidade ou Instituto que frequenta o estudante.
Na Academia Minhota, o traje destaca-se pela sua originalidade. Denominado como “O Tricórnio”, este remonta ao século XVIII. Luís Novais é a pessoa a quem todos os estudantes devem agradecer esta tradição tão nobre. Por ser uma instituição muito nova, com apenas 25 anos, em 1989 enveredava-se e copiava-se o traje de Coimbra.
No entanto, Luís Novais (presidente da Associação Académica da Universidade do Minho entre 1988 e 1991), aquando de um trabalho para uma disciplina do seu curso, descobre uns manuscritos no Arquivo Distrital de Braga, umas memórias de Ignácio José Peixoto. Estes manuscritos revelavam que Braga tinha no século XVIII uma universidade, na altura designada como Estudos Gerais. Nos mesmos manuscritos havia uma descrição dos trajes da época: “direi agora como trajavam os estudantes”. Posto isto, ao ganhar as eleições, Luís Novais decidiu renovar as tradições académicas da região e re-introduzir o traje que morrera com a expulsão dos jesuítas de Braga pelo Marquês de Pombal. Os manuscritos foram levados a um alfaiate que, baseando-se neles e em painéis de azulejos existentes na actual reitoria (também do século XVIII), desenhou o figurino corrente. Desde esta altura, em que Luís Novais foi “a primeira pessoa a sair à rua com ele vestido”, o traje tem, nos dias de hoje, um peso e um significado crescente no espírito académico.
O traje da Academia Minhota é composto por sapatos pretos e lisos, meias pretas e lisas (de vidro para as senhoras), bermudas pretas (para os homens) ou saia preta de comprimento pelo joelho, no máximo dois centímetros acima (para as mulheres). Conta também com uma camisa branca, com gola alta, um casaco preto e uma capa em godé. Para completar falta ainda o famoso Tricórnio, que torna o traje tão peculiar e a opção de usar a pasta preta ou não. Para diferenciar os estudantes trajados foram criadas as insígnias, isto é, as fitas de diversas cores e larguras que são colocadas na manga direita do casaco, presas sob o símbolo da UM ou da AAUM. Cada cor ou conjunto de cores representa um curso, e cada inscrição na Universidade merece o acréscimo de uma fita. Em caso de passagem de ano, todas as fitas são aumentadas num centímetro de largura.
Porque a Academia tem várias organizações, a forma de trajar muda consoante o grupo a que pertence. Há o caso das Confrarias, que adoptam um utensílio, objecto ou marca que os distinga, e há ainda o caso mais notório: o das Tunas. Veja-se o exemplo da Azeituna - Tuna de Ciências da UM, que tem por base o traje da Academia Minhota, ao qual foram feitas algumas alterações. As meias foram mudadas para azul celeste, cor dos cursos de ciências, assim como os ombros foram forrados com a mesma cor. Sobre o ombro direito foi colocado o brasão da Azeituna. Também a Gatuna (Tuna Feminina da UM) alterou o traje, alterações essas devidamente aprovadas pelo “Cabido de Cardeais”. Assim, a saia passa para saia-calção, as meias são opacas e verdes e a capa é forrada por dentro com cetim de cor verde, com as insígnias do lado de fora e colocada sobre os ombros. Note-se que a cor verde foi adoptado por ser uma das cores do símbolo da Universidade do Minho. A Afonsina – Tuna de Engenharia da UM, tem como cor base a cor de tijolo que é a cor de engenharia. As meias pretas passam a ter essa mesma cor e é imposto um distintivo chamado de “Pendericalho”. Finalmente, a TUM – Tuna Universitária do Minho, assumiu a cor vermelha por ser a cor principal da UM. Por conseguinte, as meias passam para vermelho, assim como elementos da mesma cor que simbolizam a tuna. Há que ter em conta que os caloiros de todas as tunas mencionadas trajam de forma diferente.
No mês de Outubro de 2002, foi elaborada uma campanha por parte de um órgão de imprensa de expressão nacional que visava ter um maior impacto a nível da região do Minho, onde iria lançar um caderno diário local. Com o slogan “O Minho não é todo igual”, esta forma de publicidade poderia ter sido genial não fosse a imagem que a fazia acompanhar. Surge um “estudante” a enveredar a camisa do mui nobre traje com os botões para a frente, em vez de estarem para trás, como é norma. Esta campanha não só surgiu em páginas de vários jornais como também foi posta em painéis gigantes por toda a região. Foi tema de revolta por parte dos estudantes na altura, mas o que é certo é que nada foi feito para que lhe tirassem a camisa e, durante longos dias, era ver nas ruas esta afronta às tradições académicas minhotas.
O Traje representa a universidade e os seus membros. Por todo o País ninguém fica indiferente ao ver um grupo de estudantes a abraçá-lo. Porque é sinónimo de admiração, toda e qualquer circunstância é razão para se andar trajado, não sendo por isso, como alude o Código de Praxe da Universidade do Minho, necessário qualquer motivo especial para envergar o traje. "Será prova de séria incompetência mental perguntar a um estudante porque está trajado”.
Helena Barbosa - hiobarbosa@aeiou.pt
Quando olho para a imagem deixada pela possível assistência de alguns jogos de futebol do nosso Campeonato nacional, fico, nalgumas vezes, com a sensação de um momento frustrante. Não pretendendo pronunciar-me sobre a qualidade dos espectáculos, aquilo que mais me decepciona é, desde logo, as imensas clareiras de lugares por preencher que certos encontros revelam.
Então, imediatamente, penso: “Não têm estes clubes gestores e economistas que se debrucem sobre estas coisas?” E logo surge, em reforço, a voz do consumidor: “Por que não baixam o preço dos bilhetes?”
Depois de serenado o ânimo de revolta, recordo-me de um conceito muito usado por todos aqueles que fornecem bens ou serviços – a elasticidade preço da procura. Apesar de todos o entendermos em muitas situações do dia-a-dia, nem sempre o reconhecemos por este pomposo nome de filiação.
Quando o afável merceeiro evita baixar o preço de caixa de doce sortido mesmo arriscando o perecimento de parte do conjunto armazenado, quando o administrador de um clube de futebol protela a decisão de descer o valor dos bilhetes sob pena de ter espaços vazios na assistência ou quando as universidades elevam o valor das propinas arriscando (segundo o aviso das Associações Académicas) o abandono de alguns alunos, mais não fazem do que, aproveitando a realidade dos que procuram, maximizar a Receita potencial (no lado inelástico da Procura).
Esta Receita, a grosso modo, pode equivaler ao produto entre as Quantidades procuradas e o Preço a que são disponibilizadas.
Assim, o nosso merceeiro, numa situação inicial, obtém 30 euros diários de Receita porque vende 6 caixas a 5 euros cada.
Mas, como grande economista autodidacta, e supondo que nenhuma legislação ou actividade fiscalizadora externa o impedem, eleva, no dia seguinte, o valor de cada caixa para os 8 euros. Em resultado, espera que as vendas caiam para as 4 caixas procuradas. 8x4=32. E o nosso merceeiro ‘ganancioso’ (para alguns) e ‘racional’ (para outros) passa a arrecadar 32 euros diários. Penaliza duas caixas. Pior que esse desperdício, impede a realização do sonho guloso de alguém que já não compra a caixa mais cara. Mas ele facturou mais.
Esta é a sugestão de uma visão descritiva (ou ‘positiva’, metodologicamente referindo). O lado ‘normativo’ não fica por aqui. E pergunta: Será este resultado justo? Trará mais bem-estar para todos? Será o mais eficiente? Implicará caixas de doce sortido devolvidas ao grossista, estádios repletos de ar e vento e menos estudantes no Ensino Superior?
Paulo Reis Mourão *
*docente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho